O Todo é UM
"Aquilo é o Todo, isto é o Todo. O Todo surge do Todo. Quando tiramos o Todo do Todo, o Todo permanece." Upanishads
10 de outubro de 2016
4 de maio de 2016
21 de novembro de 2013
E a verdade está ali onde o homem nunca olha.
Não se pode encontrar Deus; não há caminho para Ele. O homem inventou muitos caminhos, muitas religiões, muitas crenças, salvadores e instrutores, que ele pensa que o ajudarão a encontrar a felicidade duradoura. O lamentável da busca é que ela conduz a uma certa fantasia mental, uma certa visão que a mente projetou e mediu pelas coisas conhecidas. O amor que ele busca é destruído por sua maneira de vida. Não se pode ter uma arma em uma mão e Deus na outra. Deus é apenas um símbolo, uma palavra que, com efeito, perdeu sua significação, porque as igrejas e os lugares de devoção a destruíram.
Naturalmente, se você não acredita em Deus, você é igual ao crente; ambos sofrem e passam pelo sofrimento de uma vida curta e vã; e as amarguras de cada dia tornam a vida uma coisa sem significação.
A realidade não se encontra no fim da corrente do pensamento, e o coração vazio se enche com palavras do pensamento. Tornamo-nos muito espertos, inventando novas filosofias, e depois existe a amargura do fracasso delas. Inventamos teorias de como alcançar a realidade final, e o devoto vai ao templo e se perde no meio das imaginações de sua própria mente.
O monge e o santo não encontram aquela realidade, porque ambos pertencem a uma tradição, a uma cultura que os aceita como santos e monges.
O pássaro voa, a beleza da montanha de nuvens paira sobre a terra - e a verdade está ali onde o homem nunca olha.
J. Krishnamurti - A única revolução.
13 de novembro de 2013
O pensar separativo que sustenta o ego.
O que temos discutido nas últimas semanas é a questão do "eu" e suas tendências.
Chegamos a perceber que o "eu" é a causa fundamental de todos os males? O "eu"
com todas as suas extravagâncias e ações sutis é o responsável por todos os males.
Todo homem inteligente deve resolver esse problema do "eu", em vez de procurar
contrabalançá-lo, encobri-lo: deve compreender como, na vida cotidiana, está
sustentando, vitalizando e dando continuidade ao "eu". Se desejamos resolver
qualquer um dos problemas mundiais, cumpre-nos, de certo, compreender todo o
processo do "eu", com todas as suas complexidades, tanto conscientes como
inconscientes.
A religião organizada, a crença organizada e os estados totalitários são muito
semelhantes, visto que têm o mesmo intuito de destruir o indivíduo pela compulsão,
pela propaganda, por várias formas de coerção. A religião organizada faz a mesma
coisa, embora de maneira diferente, e por ela sois também obrigados a crer, a aceitar,
sois também condicionados. A tendência geral, tanto da esquerda como das chamadas
organizações espirituais, é moldar a mente segundo determinado padrão de conduta;
porque o indivíduo, quando entregue a si mesmo, se torna um rebelde. Por isso,
destrói-se o indivíduo, pela compulsão, pela propaganda: é ele controlado, dominado,
a bem da sociedade, do estado, etc. As chamadas organizações religiosas fazem a
mesma coisa, com a diferença apenas de que o fazem um pouco mais
disfarçadamente, um pouco mais sutilmente. Porque, também lá, os indivíduos devem
crer, devem reprimir, devem controlar, etc., etc. Todo o processo visa a dominar o
"eu", de uma ou de outra maneira. Pela compulsão, busca-se promover a ação
coletiva. É esse o alvo da maioria das organizações, quer econômicas, quer religiosas.
Querem ação coletiva, o que significa que o indivíduo deve ser destruído; em última
análise, só pode significar isso. Aceitais a esquerda, a teoria marxista, ou as doutrinas
hinduístas, budistas ou cristãs; e por essa maneira esperais promover ação coletiva.
Sem dúvida, cooperação é coisa muito diferente de coerção.
Como se promove a ação coletiva, ou, como deve ser promovida? Até agora ela tem
sido promovida pela crença, pela promessa econômica de um estado de prosperidade,
pela promessa de um futuro brilhante; ou o tem sido pelo chamado método espiritual,
pelo medo, pela compulsão, e por várias formas de recompensa. Não ocorre
cooperação só quando existe inteligência não coletiva, nem coletiva, nem individual?
Para estudarmos o problema com proveito, deveis descobrir qual a função da mente.
Que entendemos por "mente"?
(...) Ao observardes a vossa própria mente, estais observando não apenas os
chamados níveis superiores da mente, mas também o inconsciente: estais vendo o que
a mente realmente faz. Não é assim? Essa é a única maneira em que se pode
investigar. Não deveis sobrepor (ao que a mente faz) o que ela deveria fazer, como
deve pensar ou como deve agir, etc. — pois isso redundaria em fazer meras
afirmativas. Isto é, se dizeis que a mente deve ser isto ou que não deve ser aquilo,
pondes fim a toda investigação e a todo o pensar; e também, se citais alguma
autoridade, parais de pensar. Não é verdade? Se citais Sankara, Buda, Cristo ou XYZ,
pondes ponto final à busca, ao pensar, à investigação. Assim, devemos precaver-nos a
esse respeito. Deveis colocar de lado toda essas sutilezas da mente e saber que estais
investigando, este problema do "eu".
Qual a função da mente? Para a descobrir precisais saber o que a mente está, na
realidade, fazendo. Que faz a vossa mente? Ela é todo um processo de pensamento,
não é verdade?
De outra maneira, a mente não existe. Quando a mente não está pensando, consciente
ou inconscientemente, quando não está verbalizando, não existe consciência.
Cumpre-nos averiguar o que a mente faz — tanto a mente de que nos servimos em
nossa vida diária, como a mente de que a maioria de nós não está consciente —
cumpre-nos averiguar o que a mente faz com relação aos nossos problemas. Devemos
examinar a mente, tal como ela é, e não como deveria ser.
Pois bem, que é a mente, quando em funcionamento? Ela, de fato, é um processo de
isolamento, não achais? Fundamentalmente, é isso o que ela é. É isso que constitui o
processo do pensamento, — pensar de maneira isolada, embora permanecendo
coletiva. Observando o vosso próprio pensar, vereis que ele é um processo isolado,
fragmentário. Estais pensando em conformidade com vossas ações, as reações de
vossa memória, vossa experiência, vosso saber, vossa crença. Estais reagindo a tudo
isso. Não é exato? Se digo que há necessidade de uma revolução fundamental, reagis
imediatamente. Haveis de contestar à palavra "revolução", se tendes bons
"investimentos" (vantagens) — espirituais ou de outra natureza. Vossa reação, pois,
depende de vosso saber, de vossas crenças, de vossa experiência. Isso é um fato bem
óbvio. Há várias formas de reação. Dizeis: "Devo ser fraternal, devo cooperar, devo ser
cordial, devo ser bondoso", etc. Que é isso? Só reações; mas a reação fundamental do
processo do pensamento é um processo de isolamento.
(...) Como já apreciamos antes, esse processo só serve para fortalecer o "eu", a mente
— não importando que esse "eu" seja "alto" ou "baixo". Todas as nossas religiões,
todas as nossas sanções sociais, todas as nossas leis, existem para o amparo do
indivíduo, do "eu" individual, da ação separatista; e, do lado oposto, temos o estado
totalitário. Se penetrardes mais fundo no inconsciente, vereis que lá também está em
funcionamento o mesmo processo. Lá somos o coletivo, influenciado pelo ambiente,
pelo clima, sociedade, pai, mãe, avô. Lá também existe o desejo de impor, de dominar,
como indivíduo, como "eu".
Nessas condições, não é a função da mente, como a conhecemos e como funcionamos
em cada dia, um processo de isolamento? Não estais em busca da salvação individual?
Haveis de ser alguém no futuro; ainda nesta vida, haveis de ser um grande homem,
um grande escritor. Toda a nossa tendência é para estarmos separados. Pode a mente
fazer alguma coisa mais do que isso? É possível a mente não pensar de maneira
separativa, de maneira egocêntrica, fragmentária? É impossível. Por esta razão,
rendemos culto à mente, a mente é sobremodo importante. Não é verdade que
qualquer pessoa que possui um bocadinho de sagacidade, um bocadinho de
vivacidade, um pouquinho de ilustração e saber, logo se torna muito importante na
sociedade? Sabeis quanto venerais os homens que são intelectualmente superiores, os
advogados, os professores, os oradores, os bons escritores, os grandes explicadores e
expositores! Não é verdade? Tendes cultivado o intelecto e a mente.
A função da mente é existir isolada; de outra maneira, vossa mente não existe. Depois
de cultivarmos este processo durante séculos, vemos que é impossível cooperar;
economicamente e religiosamente, só somos empurrados, compelidos, tangidos pela
autoridade, pelo medo. Se tal é a situação de fato, não apenas conscientemente, mas
também nos níveis mais profundos, em nossos motivos, nossas intenções, nossas
ocupações, como é possível qualquer cooperação? Como podemos unir-nos
inteligentemente, para fazer alguma coisa? Sendo isso quase impossível, as religiões e
os partidos sociais organizados forçam o indivíduo a certas formas de disciplina.
Torna-se então obrigatória a disciplina em vista a união e a cooperação.
Assim, enquanto não compreendermos como transcender esse pensar separativo, esse
processo de exaltação do "eu" e da mente, quer sob forma coletiva, quer sob forma
individual, não teremos paz; teremos constante conflitos e guerras. Pois bem, o nosso
problema consiste em descobrir a maneira de dissolver, de eliminar o processo
separativo do pensamento. Pode o pensamento destruir o "eu" — sendo o pensamento
processo de verbalização e de certas reações? O pensamento não passa de reação; o
pensamento não é criador; é apenas a expressão verbal da criação, a que chamamos
pensamento. Pode esse pensamento por fim a si mesmo?... O pensamento está
forçando, impelindo, disciplinando a si mesmo para ser alguma coisa ou para não ser
alguma coisa. Não é isso um processo de isolamento? Logo, não é a inteligência
integrada, capaz de funcionar como um todo e da qual, tão somente, pode provir a
cooperação.
(...) Como chegareis a colocar fim ao pensamento? Ou melhor, como chegará o
pensamento ao seu término? Refiro-me ao pensamento que é isolado, fragmentário e
parcial. De que maneira ireis proceder? A disciplina o destruirá? Aquilo a que chamais
disciplina o destruirá? É bem evidente que não conseguistes tal resultado em todos
estes longos anos; do contrário, não estaríeis aqui. Cumpre-vos examinar o processo
do disciplinamento, o qual é apenas um processo de pensamento, em que há sujeição,
controle, dominação — tudo atingindo o inconsciente. Este irá se impor mais tarde, ao
ficardes mais velho. Tendo tentado a disciplina por tanto tempo, inutilmente, deveis
ter reconhecido que a disciplina não é o processo capaz de destruir o "eu". O "eu" não
pode ser destruído pela disciplina, porque a disciplina é um processo de fortalecimento
do "eu". Entretanto, todas as vossas religiões a defendem: todas as meditações, todas
as vossas asserções estão baseadas nisso. O saber o destruirá? A crença o destruirá?
Por outras palavras, tudo o que estamos fazendo presentemente, todas as atividades
a que estamos entregues com o fim de desarraigar o "eu", darão tal resultado? Tudo
isso, fundamentalmente, não é um esforço vão, dentro de um processo de
pensamento, um processo de isolamento, um processo de reação? Que fazeis, ao
reconhecer, fundamentalmente, que o processo do pensamento não pode por fim a si
mesmo?... Compreendeis, então, que toda reação é condicionada, e que, mediante
condicionamento, não haverá liberdade, nem no começo, nem no fim. A liberdade está
sempre no começo, e não no fim.
(...) Vemos os caminhos do intelecto: não vemos o caminho do amor. O caminho do
amor não pode ser encontrado pelo intelecto. O intelecto, com todas as suas
ramificações, com todos os seus desejos, ambições, empenhos, tem de cessar, para
que o verdadeiro amor venha à existência. Não sabeis que, quando amais, cooperais,
não estais pensando em vós mesmos? Essa é a mais alta forma de inteligência — não
quando sois amado como uma entidade superior ou quando vos encontrais em boa
situação, — o que nada é senão medo. Onde houver direitos adquiridos, não pode
haver amor; só há o processo de exploração, que culmina no temor. O amor só pode
começar a existir, quando a mente não existe. Por conseguinte, cumpre-vos
compreender todo o processo da mente, o funcionamento da mente. Só então podereis
descobrir quando se realizará a revolução fundamental... Só então é possível descobrir
o que é Deus, o que é a verdade. Ora, desejamos achar a verdade por meio do
intelecto, por meio da imitação — o que é idolatria, quer os ídolos sejam feitos pela
mão, quer pela mente. Só quando, pela compreensão, abandonais completamente a
estrutura total do "eu", só então vem aquilo que é eterno, atemporal, imensurável;
não podeis ir até ele; ele vem a vós.
Jiddu Krishnamurti
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