17 de fevereiro de 2012




Meher Baba



A Existência é a Substância, a Vida é a Sombra.

A Existência é eterna, enquato que a vida é perecível. Comparativamente, a Existência é o que seu corpo é para o homem e a vida é como a roupa que cobre o corpo. O mesmo corpo muda de roupa de acordo com as estações, com o tempo e as circunstâncias, da mesma forma que a Existência eterna e una sempre está lá através de todos os inúmeros aspectos variados da vida.
Envolta além do reconhecimento pelo manto da vida com suas dobras e cores variadas está a Existência imutável. É o traje da vida com seus véus - o véu da mente, da energia e das formas grosseiras que "encobrem" e se sobrepõe sobre a Existência, apresentando a Existência eterna, indivisível e imutável como transiente, diversificada e em constante mudança.
A Existência é onipresente e é a essência fundamental que sublinha todas as coisas animadas ou inanimadas, reais ou irreais, variadas em espécie ou uniforme em formas, coletivas ou individuais, abstratas ou substanciais.
Na eternidade da Existência não existe o tempo. Não há passado nem futuro, apenas o presente eterno. Na eternidade nada jamais aconteceu e nada jamais acontecerá. Tudo está acontecendo no interminável AGORA.


A Existência é Deus, enquanto que a vida é ilusão.


A Existência é Realidade, enquanto que a vida é imaginação.


A Existência é eterna, enquanto que a vida é efêmera.


A Existência é imutável, enquanto que a vida está sempre mudando.


A Existência é liberdade, enquanto que a vida é um aprisionador.


Existência é indivisível, enquanto que a vida é múltipla.


Existência é imperceptível, enquanto que a vida é enganosa.


A Existência é independente, enquanto que a vida é dependente da mente, da energia e das formas brutas.


A Existência é, enquanto que a vida parece ser.


A Existência, portanto, não é a vida.


O nascimento e a morte não marcam o início ou o fim da vida. Considerando que as diversas fases e estados da vida que constituem os chamados nascimentos e mortes são regidos pelas leis da evolução e da reencarnação, a vida vem a existir uma única vez, com o advento dos primeiros raios pálidos da consciência limitada, e sucumbe à morte apenas uma vez ao alcançar a Consciência Plena da Existência Infinita.
A Existência, onisciente, onipotente, Deus onipresente, está além de causa e efeito, além do tempo e do espaço, além de todas as ações.
A Existência toca a tudo, todas as coisas e todas as sombras. Nada jamais pode tocar a Existência. Mesmo o próprio fato de seu ser não tocar a Existência.
Para perceber a Existência é preciso despreender-se da vida. É a vida que dá limitações ao Ser ilimitado. A vida do ser limitado é sustentada pela mente que cria impressões, pela energia que alimenta o impulso para acumular e dissipar essas impressões através de expressões, e por formas grosseiras e corpos que funcionam como instrumentos através dos quais essas impressões são gastas, reforçadas e, eventualmente, exauridas através de ações.
A vida está densamente associada às ações. A vida é vivida através de ações. A vida é valorizada através de ações. A sobrevivência da vida depende de ações. As ações são o que faz a vida ser conhecida - ações opostas em natureza, ações afirmativas e negativas, ações construtivas e destrutivas. Portanto, para deixar a vida sucumbir até sua morte definitiva é deixar todas as ações terminarem. Quando as ações terminam completamente, a vida do ser limitado espontaneamente experimenta-se como a Existência do Ser ilimitado.
A Existência ao ser realizada (percebida e atingida), a evolução e a involução da consciência estão completas, a ilusão desaparece e a lei da reencarnação não pode mais aprisionar.
Simplesmente desistir de cometer ações nunca colocará um fim nas ações. Seria simplesmente significar pôr em ação uma outra ação - a da inatividade.
Escapar das ações não é o remédio para a erradicação das ações. Pelo contrário, isso daria margem para o ser limitado ficar mais envolvido no próprio ato de escapar, criando assim mais ações.
As ações, tanto as boas quanto as ruins, são como nós no emaranhado da linha da vida. Quanto mais persistentes os esforços para desatar os nós da ação, mais firmes tornam-se os nós e maior o emaranhamento.
Somente ações podem anular ações, da mesma maneira que o veneno pode neutralizar os efeitos do veneno. Um espinho profundamente enraizado pode ser extraído ao usarmos um outro espinho ou qualquer objeto pontiagudo semelhante a um espinho, como uma agulha, utilizada com habilidade e precaução. Da mesma forma, as ações são totalmente arrancadas por outras ações, quando são cometidas por algum agente de ativação que não seja o 'ser'.
Karma yoga, dnyan yoga, raj yoga e bhakti yoga servem o propósito de serem sinais importantes no caminho da Verdade, orientando o buscador para a meta da Existência eterna. Mas a vida alimentada por ações, segura tão apertado o aspirante que mesmo com a ajuda desses sinais inspiradores, ele falha em ser guiado na direção certa. Enquanto o Ser é vinculado por ações, o aspirante ou mesmo o peregrino no caminho da Verdade, certamente irá se extraviar pelo auto-engano.
Ao longo de todas as eras, sadhus e buscadores, sábios e santos, Munis e monges, tapasavis e Sanyasis, yogis, Sufis e talibs têm lutado durante suas vidas inteiras, passando por dificuldades incalculáveis em seus esforços para se desembaraçarem do emaranhado de ações e perceberem a Existência eterna ao sobrepujarem a vida.
Eles falham em suas tentativas porque quanto mais lutam com seu 'ser', mais firmemente seu ser é agarrado pela vida, por meio de ações intensificadas pelas austeridades e penitências, reclusões e peregrinações, meditação e concentração, declarações assertivas e contemplação silenciosa, por uma intensa atividade e inatividade, pelo silêncio e pela verbosidade, por japas e tapas, e por todos os tipos de yogas e chillas.
A emancipação das garras da vida e a liberdade dos labirintos das ações são possíveis para todos e alcançadas por poucos, quando um Mestre Perfeito, Sadguru ou Qutub é abordado e sua graça e orientação são invocadas. O conselho invariável do Mestre Perfeito é a rendição completa a ele. Os poucos que se entregam por completo - mente, corpo, bens, de modo que com sua entrega total eles entregem também conscientemente seu próprio "ser" ao Mestre Perfeito - ainda mantêm seu próprio ser que permanece consciente para cometer ações que são agora ativadas apenas pelos ditames do Mestre.
Tais ações, após a entrega do 'ser', não são mais ações da própria pessoa. Assim, essas ações são capazes de arrancar todas as outras ações que alimentam e sustentam a vida. A vida torna-se então gradualmente sem vida e, eventualmente, sucumbe pela graça do Mestre Perfeito, à sua morte final. A vida, que uma vez impediu o aspirante perseverante de realizar a Existência perpétua, já não pode operar seu próprio engano.
Eu enfatizei no passado, eu lhes digo agora e repetirei era após era para todo o sempre: para vocês deixarem cair seu manto da vida e perceberem a Existência que é eternamente sua.
Para realizar esta verdade da Existência imutável, indivisível, que tudo permeia, a maneira mais simples é se entregar a mim completamente, tão completamente que você nem sequer fique consciente de sua rendição, consciente apenas de me obedecer e agir como e quando eu lhe ordenar.
Se você busca viver eternamente, então implore pela morte de seu ser enganoso nas mãos da entrega total a mim. Esse yoga é a essência de todos os Yogas em um.

24 de janeiro de 2012





Meher Baba

O Caminho do Amor



Deus como Verdade
Em última análise, cada um e cada coisa é Deus. E esse Deus como a verdade pode ser realizado por meio de um Guru ou de um Mestre. Geralmente, neste país, o Vedantismo está associado a esta realização do Altíssimo. Porém, agora não estou preocupado com o Vedantismo, com o Sufismo ou qualquer outro "ismo", mas somente com Deus como a Verdade, em como Ele entra em nossa experiência após o desaparecimento da mente-ego limitada e limitante. Deus é uma Verdade inabalável e eterna. Ele se comunica e revela a Si memso para aqueles que amam-No, que buscam-No e que se entregam a Ele, tanto em seu aspecto impessoal que está além de forma, nome e tempo, ou em Seu aspecto pessoal. Ele é mais facilmente acessível ao homem comum através dos homens-Deus, que sempre vêm e sempre virão para transmitir luz e verdade para a sofrida humanidade, a qual em sua maioria está tateando no escuro.
Por causa de sua completa união com Deus, o homem-Deus desfruta eternamente do estado "eu-sou-Deus", que também corresponde ao termo Vedanta Aham Brahmasmi e ao termo Sufi Anal-Haq ou à declaração de Cristo: "Eu e meu Pai somos um." Na experiência dos Sufis, Anal-Haq, ou o estado "eu-sou-Deus", é a culminação de Hama-Oost, que significa que tudo é Deus e nada mais existe. E uma vez que nesta abordagem só “Deus sem um segundo" é contemplado, não há espaço para o amor por Deus ou o anseio por Deus. A alma tem a convicção intelectual de que ela é Deus. Mas para realmente experimentar esse estado, ela passa por uma intensa concentração ou meditação sobre esse pensamento. "Eu não sou o corpo, não sou a mente, não sou isto nem aquilo, eu sou Deus." A alma, em seguida, experimenta através da meditação aquilo que ela assumiu ser ela mesma. Mas essa maneira de experimentar Deus não é apenas difícil, mas é também seca.
O Caminho é mais realista e alegre quando há um amplo jogo de amor e devoção a Deus, quando postula a separação temporária e aparente de Deus e o desejo de unir-se a Ele. Tal separação aparente e provisória de Deus é afirmada pela alma nas duas concepções da tradição Sufi: Hamaaz Oost, que significa que tudo é de Deus e Hama Doost, que significa que tudo é para o Amado Deus. Em ambas as concepções a alma percebe que sua separação de Deus é apenas temporária e aparente e ela busca restaurar essa unidade perdida com Deus através de um intenso amor que consome toda a dualidade. A única diferença entre esses dois estados é que enquanto a alma, no estado de HamaDoost, contenta-se com a Vontade de Deus como o Bem-Amado, no estado de Hama az Oost, a alma não anseia por nada além da união com Deus.
Sendo que a alma, que está em aprisionamento, pode ser resgatada somente através do Amor Divino, até mesmo os Mestres Perfeitos, os quais alcançam a completa unidade com Deus e experimentam-no como a única Realidade, muitas vezes, aparentemente, entram no domínio da dualidade e falam a linguagem do amor, da adoração e do serviço a Deus em Seu Ser não-manifesto bem como em todas as inumeráveis formas ​​através das quais Ele se manifesta.
O Amor Divino, como cantado por santos hindus como Tukaram, como ensinado por místicos Cristãos como São Francisco, como pregado por santos Zoroastristas comoAzer Kaivan e tornado imortal por poetas sufis como Hafiz, nunca abriga nenhum pensamento autocentrado. Ele consome todos os desejos e fraquezas que nutrem a servidão e a ilusão da dualidade. Por fim, ele une a alma a Deus, trazendo assim para a alma o verdadeiro autoconhecimento, a felicidade duradoura, a paz inatacável, a compreensão sem fronteiras e o poder ilimitado. Sejam vocês os herdeiros dessa vida eterna que vem para aqueles que buscam!

Deus como a Bem-aventurança
Em todos os lugares, em todos os estilos de vida, o homem, sem exceção, tem sede de felicidade. Ele tenta saciá-la nas diversas seduções da vida sensual e nas muitas posses e conquistas que alimentam e agradam o ego, bem como também nas inumeráveis experiênciasque estimulam o intelecto, que excitam a mente, acalmam o coração ou energizam o espírito. De tudo isso, o que ele procura é a felicidade de diversos tipos. Mas ele procura-a no mundo da dualidade e nas sombras passageiras da Ilusão de Maya, a qual chamamos de universo. E ele descobre que a felicidade que consegue ali é tão passageira que quase desaparece no próprio momento da experiência. E depois que desaparece, o que resta é um vazio sem fundo que nenhuma multiplicação de experiências similares jamais poderá preencher completamente. Mas a verdadeira bem-aventurança só pode vir para alguém que tenha em suas mãos a coragem de se tornar livre de todo apego às formas, que por sua vez não são nada além de ilusões da dualidade. Só então ele pode ser unido com seu verdadeiro Amado, que é Deus como a Verdade eterna e permanente por trás de todas as formas, incluindo o que ele considera como sendo seu próprio corpo.
O infinito e insondável oceano da Bem-aventurança está dentro de todos. Não há nenhum indivíduo inteiramente desprovido de felicidade de alguma forma, pois não há nenhum indivíduo que esteja totalmente separado de Deus como o Oceano da Bem-aventurança. Cada tipo de prazer que ele já teve é em última instância um reflexo parcial e ilusório de Deus como Ananda (bem-aventurança). Mas o prazer que é procurado e experimentado na ignorância, finalmente aprisiona a alma numa continuação interminável da falsa vida do ego e deixa a alma exposta aos muitos sofrimentos da vida egóica. Os prazeres do mundo ilusório são comparáveis ​​aos muitos rios de miragem que aparentemente derramam-se no oceano. A felicidade divina é semrpe nova, eterna, contínua e é infinitamente experimentada como a alegria autosustentável e infinita de Deus.
Unam-se ao seu verdadeiro Amado, o qual é Deus na forma de Ananda ou Bem-aventurança!

Deus
Na fase sub-humana, a consciência do falso ser ou do falso "eu", que é muito leve, oferece possibilidades de evolução. Na forma humana, a evolução da consciência é completada e a consciência torna-se plena. O amor entra em cena ativamente pela primeira vez. Quando o amor desempenha o papel de forma mais ativa e plena, o falso "eu" passa a ser cada vez e mais consumido. Eventualmente, quando o amor está em seu apogeu, o falso "eu" é totalmente consumido pelo amor, o que resulta na consumação do amante e do amor no altar do Amado. Nem o amante permanece no amor, nem o amor reina soberano sobre o amante: o objetivo é atingido. O Amado é supremo sobre seu ser: não há nada exceto o Amado: todo o resto é consumido.

A respeito de ser o Avatar
Quando digo que sou o Avatar, há alguns que se sentem felizes, alguns que se sentem chocados e muitos que, ao me ouvirem afirmar isso, consideram-me como um hipócrita, uma fraude, um egoísta supremo, ou simplesmente um louco. Se eu dissesse que cada um de vocês é um Avatar, alguns ficariam contentes e muitos considerariam uma blasfêmia ou uma piada. O fato é que sendo Deus Um, indivisível e estando igualmente em todos nós, não podemos ser nada mais além de um, porém é demais para a mente consciente da dualidade aceitar isso. No entanto, cada um de nós é o que o outro é. Sei que eu sou o Avatar em todos os sentidos da palavra e sei que cada um de vocês é um Avatar em um sentido ou outro. É um fato inalterável e universalmente reconhecido desde tempos imemoriais que Deus sabe tudo, Deus faz tudo e que nada acontece senão pela vontade de Deus. Portanto, é Deus que me faz dizer que eu sou o Avatar e que cada um de vocês é um Avatar. Novamente, é Ele que é alegrado através de alguns e que através de outros fica chocado. É Deus que age e é Deus que reage. É Ele quem zomba e aquele que responde. Ele é o Criador, o Produtor, o Ator e a Platéia na Sua própria peça Divina.

A respeito de manter silêncio*
Se você me perguntasse por que eu não falo, eu diria que não estou em silêncio e que eu falo mais eloquentemente através de gestos e da tábua do alfabeto. Se você me perguntasse por que eu não falo, eu diria que talvez por três razões: em primeiro lugar, sinto que através de todos vocês eu estou falando eternamente. Em segundo lugar, para aliviar o tédio de falar incessantemente através de suas formas eu mantenho silêncio em minha forma física pessoal. E em terceiro lugar, porque toda a conversa é em si conversa fiada. Palestras, mensagens, declarações, discursos de qualquer natureza, espirituais ou não, transmitidos através declarações ou escritos, são apenas conversa fiada quando não se age em conformidade ou se vive aquilo. Se você perguntar quando irei quebrar meu silêncio, direi que será quando eu quiser proferir a única Palavra real que foi falada no princípio sem começo, pois apenas essa Palavra é digna de ser proferida. O momento de quebrar o meu silêncio externo para proferir essa Palavra está muito próximo.
Meher Baba guardou silêncio por 44 anos.